quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Um papo com o poeta Carpinejar

foto de Renata Stoduto

“Na primeira vez que li um poema de Carpinejar, ele me abraçou com as palavras. Sua poesia é afrodisíaca e nos envolve cada vez mais. O que a filosofia pergunta, a sua poesia responde”. Esse é o depoimento da acadêmica do curso de Letras Português/Espanhol da Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras (Fafiuv), Jucimara Garbos. Nesse pequeno trecho, percebe-se a grande admiração da aluna pelo escritor, o qual merece um destaque especial na literatura brasileira.
Fabrício Carpinejar, Carpi de mãe, e Nejar de pai, é poeta e jornalista. Nasceu em Caxias do Sul (RS) na primavera de 23 de outubro de 1972. Aos 36 anos, possui 15 prêmios em sua carreira de “literato” e 12 livros publicados. Mestre em Literatura Brasileira pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, filho de dois escritores de nossa literatura brasileira, Carlos Nejar e Maria Carpi.
Fabrício é uma das revelações de nossa literatura. Sua obra possui uma fina delicadeza, tem o lirismo correndo em suas veias. Ele pensa poesia, escreve, seja qual for o texto: conto, crônicas, enfim, são sempre poeticamente escritos.
A entrevista foi concedida à acadêmica do 3.º ano de Letras Português/Espanhol da Fafiuv, Jucimara Garbos.

JG - Quais são seus livros de cabeceira? Um poema e um autor que mais o agrada?
Cabeceira é longe. Livros ficam na própria cama, como almofadas de minhas mãos. As mãos também precisam de lençóis. Gosto muito de Goethe. Uma frase dele é como epígrafe do que acredito: “se queres caminhar ao infinito, caminhe por todos os lados do finito”.


JG - Fabrício, você acredita que a literatura tem o poder de representar um estado de sentimento, ou tudo é fruto de um jogo; o poeta seria aquele de Fernando Pessoa, um fingidor?
Não há fingimento que não passe para o lado da verdade. É só começar a fingir que já viramos a casaca. O poeta é aquele que não sabe mentir sua emoção, pode alterar a ordem dos fatos ou a maneira de expressá-la. O dicionário sente inveja da poesia. A poesia casa, o dicionário separa. O dicionário é a Vara de Família.


JG - Fabrício, conte como foi a sua química pela poesia, como ela o envolveu?
Quando eu vi que era possível ser tudo o que sonhei em segredo. Poderia ser qualquer profissão. Poderia ser qualquer pessoa. Poderia habitar todo nome. Ser ninguém é uma forma de ser um pouco cada um que amo todo dia. Minha personalidade é influenciável. Decidi pela poesia, de modo organizado, aos 16 anos. Desisti das cartas de amor para amar fora do papel. O risco de redigir cartas é amar o papel mais do que o destinatário: fugi dessa cilada.


JG - Leio seu blog diariamente(fabriciocarpinejar.blogger.com.br)acredita que ele é um meio de divulgar sua obra, como faziam os escritores antigamente com os folhetins?
Sim, perfeito, é uma novela com capítulos, participação, tramas e ações encadeadas. O blog é o folhetim interativo. A reinvenção da via privada. Com a malícia da confusão, o ímpeto da imaginação e o tempero da proximidade.


JG - Você acaba de publicar seu novo livro: Canalha (Bertrand Brasil, 2008) qual seu maior motivo para escrever tanto?
Ter ficado calado toda a minha infância, eu somente destravei agora. Eu me guardei muito tempo. Fiz estoque na despensa, acumulei. Escrevo para descontar a asma e recuperar o tempo que nunca foi perdido.


JG - Uma mensagem aos novos leitores de Carpinejar:
Que não estranhem meus óculos, minha careca e as unhas pintadas: sou perigosamente caseiro.


Autor dos livros:

As Solas do Sol (Bertrand Brasil, 1998),
Um Terno de Pássaros ao Sul (Escrituras Editora, 2000), objeto de referência nos The Book of the Year 2001 da Enciclopédia Britânica,
Terceira Sede (Escrituras, 2001),
Biografia de uma árvore (Escrituras, 2002),
Caixa de Sapatos (Companhia das Letras, 2003),
Porto Alegre e o dia em que a cidade fugiu de casa (Alaúde, 2004)
Cinco Marias (Bertrand Brasil, 2004)
Como no Céu e Livro de Visitas (Bertrand Brasil, 2005),
O Amor Esquece de Começar (Bertrand Brasil, 2006)
Filhote De Cruz Credo (A GIRAFA EDITORA, 2006),
Meu filho, minha filha (Bertrand Brasil, 2007) e Canalha! (Bertrand Brasil, 2008).


publicado no jornal O Comércio - Novembro de 2008

3 comentários:

Anônimo disse...

Muito legal esse papo com o Carpinejar. Muito bom esse seu espaço. Obriagdo pela visita No Zoopoesia.
Grande abraço e muita poesia.
Sidnei

caio ricardo bona moreira disse...

e o orgasmo? CENSURADO?

bjssssss

Sophie disse...

Caio ai vai a parte censurada ...hheheh

" Mesmo quando uma mulher finge um orgasmo, está treinando o gemido."