quinta-feira, 9 de outubro de 2008

O CÉU NÃO TEM SOM

Tudo que fazia era com música, pois ela de certa forma me deixava leve, e me levava para outra dimensão, fugia do mundo real e passava morar em um mundo paralelo, e esse mundo tinha uma diferença de oito anos a menos.
Dia 19 de maio de 2116 era um dia importante para mim, pois minha esposa Amelie ia dar a luz ao nosso primeiro filho, o Joaquim, como Amelie teve algumas complicações em sua gravidez, não poderia ter parto normal, e já estava no hospital, no dia seguinte às dez horas da manhã, Joaquim ia nascer.
Finalmente o grande dia chegou, vai nascer nosso Joaquim, levantei cedo perto das sete, fiz um café, tomei-o, em seguida alimentei nossos animais de estimação, fui arrumar as coisas no carro para levar para o hospital, liguei o som do carro para relaxar um pouco, pois estava tenso com a chegada de Joaquim e ainda faltavam três horas para seu nascimento, mudei de estação, pois queria ouvir uma música tranqüila, quando dei por mim estava com Alice, esqueci que não poderia escutar música nesse dia, aqui eu era um vendedor de cigarros, onde já tinha uma família, aliás, uma família grande, minha esposa era linda, a Alice, tínhamos, três filhos, Alberto, Romena, e Vicent, sentia muito orgulho dos meus filhos, todos com uma carreira brilhante pela frente, Alberto era engenheiro, com planos para o futuro, Romena, professora, sentia um prazer em dar aulas e ter seus alunos sempre em sua volta, Vicent, era médico pediatra adorava crianças.
Mais não poderia permanecer aqui, pois Joaquim estava para nascer, tinha que estar com Amelie, sai desesperado atrás de um som, para poder voltar, encontrei na cozinha, sintonizei em uma música tranqüila, gostava muito de clássicos.
Acordei com o braço adormecido, olhei para o relógio nove e meia, saí correndo para chegar a tempo ao hospital, coloquei as coisas no carro, saí depressa, ao chegar no trevo um grande movimento, fui ultrapassar outro carro, acordei em outro mundo, pensei, voltei para Alice e as crianças, mais e a Amelie, está sozinha, não conhecia ninguém, nada era familiar, comecei a falar com as pessoas que passavam por mim, mais ninguém me ouvia, tinha que achar um som, mais as coisas não tinham som, onde estou? Preciso ouvir, preciso voltar para Amelie, pois Joaquim vai nascer preciso estar lá quando ele chegar, comecei andar por aquelas ruas estreitas, cheias de flores, com uma claridade, muito forte que chegava a doer os olhos, andei, andei, acho que andei por umas dez quadras, até que avistei um piano, corri até ele para ver se saia algum som, mais nada, não funcionava. Escutei uma voz no fundo, olhei um senhor com cabelos volumosos, um lenço vermelho em volta do pescoço, não acreditava que era ele mesmo, pensei então estou no céu. Ele falou comigo, com uma voz grossa?
- Este piano só funciona com minhas mãos.
- Beethoven?
- Sim, eu mesmo
- Pode me ouvir?
- Sim, aqui eu consigo ouvir, produzi várias músicas aqui, eu e meu piano somos grandes companheiros, aqui eu sou feliz.
Estava em choque, não acreditava que era o próprio, pedi a ele para tocar uma música, para que eu pudesse voltar para a terra, se é que ainda daria tempo para ver Joaquim nascer.
Beethoven deslizava as mãos no piano, o som, tão suave, estava me sentido leve, muito leve, muito leve, leveeeee...
E acordei em um barranco, meu carro com a frente destruída, mais ainda dá tempo de chegar ao Hospital. Chegando lá, entramos na sala de cirurgia, estava tenso, mais Joaquim nasceu bem, e Amelie continua linda.

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